sábado, 5 de julho de 2014

Nosso espaço



Se você é uma daquelas pessoas que passam dias e dias lembrando dos personagens dos seus livros favoritos e/ou das histórias que lhe fizeram sorrir, chorar, sentir medo ou alguma outra sensação marcante, certamente você já sabe que, pra gente viajar, nem sempre é preciso fazer as malas e cair na estrada. Os livros (mesmo que sejam e-books) nos levam à outras épocas, a outros lugares, a conhecer outras pessoas... ler é viajar
Mas, desde quando o homem descobriu essa incrível façanha? Ou, em outras palavras: desde quando o homem percebeu que ele poderia tornar públicas as suas histórias (impressa e/ou oralmente)?
Neste blog você encontra relevantes informações a respeito do histórico da literatura francesa durante o período medieval. Navegue pelo nosso menu e conheça o contexto social em que essa literatura foi produzida, além de conhecer as principais obras publicadas durante a Idade Média. Bon voyage! 

Principais obras

A Idade Média foi uma época de intensa produção literária. Vejamos, abaixo, algumas das principais obras produzidas nesse período.



La chanson de Roland
La chanson de Roland (A canção de Rolando) é um poema épico, sendo a mais antiga das canções de gesta (sobre explorações guerrilheiras). O seu manuscrito é datado de 1070, com 4002 versos de 10 sílabas poéticas. Esse longo poema narra um importante fato histórico ocorrido no século VIII, em que uma expedição militar liderada pelo Imperador Carlos Magno e pelo seu sobrinho, Rolando, sob os planos enganosos do rei Marsílio, estava deixando a Espanha. O rei Marsílio declarou que, se o rei Carlos Magno partisse da Espanha, ele se tornaria cristão e vassalo do rei Carlos Magno. Acreditando nessa promessa, a expedição desse rei partiu em direção à região oriente do império. Durante o percurso, a retaguarda do exército franco foi atacada e massacrada por um grupo de bascos (cristãos) e, na ocasião, Rolando perdeu a vida. Três séculos depois, surge o poema La chanson de Roland narrando todos esses feitos. 


Perceval ou le roman du graal
Trata-se de um romance (inacabado) do poeta e trovador Chrétien de Troyes (membro do clero da igreja). O poema narra a história de um jovem chamado Perceval, que é encontrado por cavaleiros em uma floresta. Quando ele decide que também quer ser um cavaleiro, Perceval parte para a corte do Rei Artur a contragosto de sua mãe, que o havia criado em uma floresta para mantê-lo distante da civilização e evitar que ele se tornasse um cavaleiro. Perceval que parte em busca do Graal (vaso sagrado onde foi colocado um pouco do sangue de Jesus durante o momento da crucificação), para descobrir quais poderes miraculosos presentes no Graal mantinham vivo o pai (ferido) do Rei Pescador.



Le roman de Renart
Le roman de Renart é um conjunto de poemas independentes uns dos outros, compostas por vários autores, que narram a luta da raposa contra o lobo. Seriam espécies de fábulas da Idade Média, inspiradas nas fábulas do Esopo. Porém, ao contrário das fábulas do Esopo, Le roman de Renart não tinha o objetivo de transmitir nenhum  ensinamento ou moral. 


Le lai du chèvrefeuille
O lai é um poema de forma fixa, que surgiu no século XII e, que, durante a IM, designava o sentido de canto ou de narrativa cantada. O lai foi introduzido durante a IM, através de Marie de France, uma de nossas primeiras poetisas. Ela escreveu entre 1160 e 1190 lais; um deles é o Lai du chèvrefeuille, que relata um dos encontros clandestinos dos amantes Tristão e Isolda. 

Le roman de la rose
Le roman de la rose é uma obra poética composta de 22 000 versos octassílabos, construído a partir da alegoria de um sonho sobre a temática do amor. A obra está dividida em duas partes: a primeira, escrita por Guillaume de Lorris (em torno de 4058 versos), entre os anos de 1230 e 1235. Essa parte focaliza o amor enquanto um sentimento mitológico - o amor cortês. Nela são narradas as investidas de um cortesão durante a conquista do coração de sua amada, cujo personagem alegórico é uma rosa. O enredo acontece em um jardim cercado por um muro, que representa o romance; o lado exterior aos muros representa a vida comum. A segunda parte foi escrita por Jean de Meung (em torno de 18000 versos) entre os anos de 1275 e 1280. Esse autor adota um tom mais filosófico, em que o amor e a mulher são vistos sob uma óptica negativa. Nessa segunda parte, a rosa que era como um amor inalcançável na primeira parte, acaba sendo arrancada do jardim por causa da traição. Meun utiliza os seus conhecimentos filosóficos e científicos para complementar essa obra. 


Le mystère de la passion
Escrito por Arnoul Gréban, em 1450, Le mystère de la passion retrata alguns episódios da Bíblia Cristã, a respeito da vida, paixão e morte de Jesus Cristo. Essa obra é organizada em 35.000 versos e, e partir deles, aproximadamente 224 personagens narram, em 4 dias, como se deu a Paixão de Cristo pelos seres humanos, que o levou a dar a sua vida para salvá-los.
Assim, no prólogo dessa peça, é evocada a história de Adão e Eva, na qual esses dois personagens caem em pecado pela primeira vez; isso que faz com que todos os seres humanos estejam aprisionados à condição pecaminosa do pecado original. 
No primeiro dia, ocorre uma discussão entre os seguintes personagens (alegóricos): a Misericórdia, a Justiça, a Paz, a Sabedoria e a Verdade, que resolvem enviar o Messias à Terra: Jesus, o Filho de Deus, que nascerá da Virgem Maria, com o objetivo de salvar os seres humanos do pecado original. A partir disso, a notícia desse plano salvífico chegou até os infernos e, então, Lúcifer convocou os seus diabos conselheiros: Satan, Astsroth, Belzébuth e Cerbère, para decidirem o que fariam para combater o plano de salvação. 
No segundo dia, é retratada a vida pública de Jesus, desde a sua infância, até o momento em que Pedro, um de seus apóstolos, acaba negando que o conhece, às vésperas da sua crucificação. 
No terceiro dia, é representado o suicídio de Judas, o apóstolo que o traiu com um beijo; o julgamento de Pilatos e, também, a crucificação e morte de Cristo.
No quarto dia, vemos a ressurreição de Jesus e a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos. 
Ao final, os personagens alegóricos novamente entram em cena, para proclamar a moral da história. 
La farce du maître Pathelin


Esta obra é o carro-chefe das farsas medievais. Um pouco mais longa que as outras, contendo 1470 versos, ela tornou-se uma comédia bastante aclamada. Se tratando de uma peça de teatro, do gênero farsa, cuja temática circula em torno de questões da moral e dos bons costumes, A farsa do advogado Pathelin é considerada a primeira comédia em língua francesa. Composta na Idade Média, por volta de 1465, de autoria desconhecida, essa comédia conta a história do advogado mentiroso chamado Pathelin que, em meio a uma crise econômica, passa-se por uma mulher e aplica um golpe a um comerciante de tecidos. 
Essa comédia critica e satiriza os costumes das duas mais fortes classes sociais da França do século XV, os comerciantes e os homens de leis. Os personagens são todos canalhas e Pathelin, o protagonista, mente descaradamente.